terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Capítulo 1:
O principio do fim.
Era uma tarde de verão, devia ser umas cinco horas, estava quente e úmido. O sol ainda estava alto, e uma brisa suave soprava. Que idílico. Quem conseguiria imaginar que sob um cenário tão delicado uma coisa, uma trama tão suja começaria a se formar?
Nina estava sentada no gramado do St. James Park, com seu visual puta do crack no verão: sandálias brancas de salto, uma saia floral curta e um top lilás, decotadíssimo. Era uma sexta-feira, graças a Deus, fora uma semana daquelas. Parecia que todos os clientes estranhos haviam marcado hora com ela de vez. Pessoas muito, digamos, peculiares. E ela já havia encontrado muitos tipos pouco usuais nesses sete anos de profissão. De qualquer forma negociara com seu cafetão que precisava de uma tarde de folga, mas na verdade queria ver se conseguia um cliente off the record, uma coisa mais autônoma com uma divisão de lucro mais igualitária. Nunca lhe pareceu justo que ela trepasse com os caras, gastasse em média 700 calorias por vez, e faturasse apenas 48,98% do preço. No way.
Não muito longe, ladeira acima, nos arredores do Piccadily Circus, George entrava num Pub, seu expediente na Wine’s havia terminado, e após um longo dia vendendo vinhos pela “bagatela” de ₤250,00 a garrafa para os ricaços da cidade estava na hora de desfrutar um pouco dos prazeres etílicos. Ao seu lado estava um rapaz que já havia visto em algum lugar, mas não conseguia se lembrar de imediato. Pediu uma Stella Artois, e acendeu um cigarro. O cara parecia reconhecê-lo, mas assim como ele, não sabia precisar de onde.
Dan estava sentado no Empire Pub em Piccadily desde ás quatro da tarde, iniciando a bebedeira do fim de semana. Gostava que as primeiras pints da sexta fossem assim: num pub, sozinho, saboreando cada molécula do álcool, composto orgânico com uma hidroxila ligada a um carbono saturado, ah, seus pensamentos químicos! Tudo estava normal, as pessoas chegando aos poucos, após uma longa semana de trabalho, buscando relaxar, jogar sinuca, ouvir um bom indie rock’n’roll, beber uns drinks, conversar, como sempre faziam. Nada fora do normal, até que um rapaz loiro sentou-se na esquina do balcão, praticamente ao seu lado. Alguma coisa chamara sua atenção, um rosto conhecido, um sotaque cockney.
Não puderam deixar de notar que já haviam terminado suas bebidas, num impulso simultâneo chamam o barman.
-Marty! –disse Dan –Uma Heineken, por favor. E você, cara, vai querer algo?
-Outra Stella, Marty. Eu conheço você, não é?
-Tive a mesma impressão. Daniel, Daniel Birmingham.
-George Klaxon. Deixa eu ver…você conhece Julie Worth?
-É claro, você é o namorado de Julie, minha prima. Great fuck, han?
-Não, não sou namorado dela, mas devo concordar com você! Sabia, foi numa festa na casa da Jul...
-Nossa, que mundo pequeno. Bem, vai rolar uma festa bem interessante no West End, num velho teatro, uma coisa assim meio underground, acho que você vai curtir. Quer ir?
-Claro. Antes eu tava querendo ir ao St. Jame’s, aproveitar um pouco do sol, e da grama, se é que você me entende?
-Você tem alguma?
-Suficiente pra dois, tá afim?
-Agora mesmo. Vou pagar, deixa comigo.
Os dois desceram para o parque como velhos amigos.Sentaram-se perto do rio, sob a sombra de uma árvore, tentando evitar os casais de aposentados e famílias com crianças que alimentavam os gansos e patos. Afinal o cheiro de maconha seria sentido, e não queria alarde, só curtir seu próprio barato, em paz, se isso não fosse pedir muito. Perto deles estava uma menina linda, com uma aparência um pouco barata, é verdade, mas sob aquela maquiagem e roupas vulgares se notava uma beleza pura, quase infantil, limpa, algo que não se vê todo dia. Notaram isso logo de imediato, e guardaram para si próprios.
Acenderam o baseado, ficaram conversando sobre a vida, sobre o nada, até que Dan sentiu uma mão tocar-lhe o ombro. Era ela, e ela sorria, e tinha um sorriso lindo.
-Oi, posso me sentar com vocês? Tenho umas cervejas na bolsa. –ela disse, e sua voz era doce, parecia ter gosto, naquele momento Daniel Birmingham sentiu algo indescritível. Infelizmente, George Klaxon também, que jeito de começar uma amizade, rivais.
-Claro, você quer fumar conosco também?-perguntou George.
-Pra já. Nossa, há tempos que não fumava um desses...é hidropônica, não é?
-Expert, você. Então, qual seu nome? Eu sou Daniel, e ele é o George.
-Catarina, mas todos me chamam de Nina. O que vocês fazem da vida?
-Eu sou vendedor de vinhos na Wine’s, e só. Tenho 22 anos, ainda tenho tempo para fazer algo, contanto que eu acabe rico.
-Estudo medicina, e gasto o dinheiro de minha família. Festas contam também?
-É Dan, aos poucos começo e perceber que você tem a vida que eu quero.-fala George, rindo. Nina ria, e de certa forma esperava que não perguntassem qual era seu emprego, embora soubesse que com suas roupas não seria difícil presumir. –E você, Nina?
-Bem...dá pra ver, né? Eu sou acompanhante profissional. –disse numa pompa sarcástica, consertando a postura, elevando sua lata de cerveja. Se sua situação não é a melhor possível, ria dela, não dá pra ficar muito pior, tampouco melhorias nesse caso são difíceis.
-Ok. Nina, ta afim de uma festa hoje?- Daniel pergunta para quebrar o gelo, e mudar de assunto.
-Vamos, que horas, onde?
-West End, 270, meia-noite. Mas vocês vão comigo, eu dirijo.
-Ok, mas eu preciso me trocar antes, eu estive na rua o dia todo, bebendo cervejas, e o sol, e o calor...
-Sem problemas Nina, a gente leva você em casa antes, né Dan?
-Claro, quer ir agora, ainda é cedo, mas podemos comer algo no caminho.
-Certo.

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