sexta-feira, 31 de agosto de 2007

poesia I

Sem Título 2
Estou quieta dentro de uma garrafa de vodca vazia
Com tantas bolhas em meus dedos
Navegando em minhas lágrimas
Escorregando nos fluidos ques rolam de minhas orelhas
E eu me pergunto sobre esse sangue ácido
nadando entre glóbulos transparentes
Derretendo as paredes de meu coraçao partido.

Fumaça
Estou desejando um cigarro
Para que eu possa por pra fora a fumaça
de raiva e choro
que dançam dentro de mim
sacudindo meus ossos
com um martelo de vidro

Um casaco
Você vem em minha direção
com seu casaco de seda
de fios de grito
cobrindo o sol
com uma tela de pano
cheio d eburacos de madiera
cortada da grande a´rvore
no meio do círculo de concreto

Dragôes
Nos céus cinzas
voam a slibélulas
flutando na chuvadespejando sem pena
tudo em meu balde ´de prata

Sem Título 1
quando se tem lágrimas de cacos de vidro
pode nao se estar perdido no labirinto
de tempestades e neblinas
sangue nos olhos
escorrendo pelas bochechas
esperando na sala de espera
com tres ossos quebrados em seus ouvidos

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

O Homem que comeu a Baleia

um conto...
vou postar por uns tempos uns trabalhos de ficção...amanhã devo postar o primeiro capítulo de meu livro. ainda inacabado


O Homem que comeu a Baleia


Era 1880, a manhã estava cinzenta, o vento soprava gelado. As ondas quebravam confusas nos rochedos, por vezes fortes, por outras que de tão suaves só uma leve ondulação espumada chegava às pedras, como se as acariciasse. As águas eram turvas e a areia na praia estava úmida, por conta de uma tempestade que fizera os ventos uivarem e as velhas janelas e portas dos chalés mais velhos ainda rangerem por toda à noite.

Ali existia uma comunidade de pescadores simples e miseráveis, com crianças famintas, magricelas e fedorentas, mulheres com olhos afundados em melancolia, constantemente prenhas e desesperadas, homens alcoólatras e machistas, vivendo em pequenas taperas de madeira podre e bolorenta, geladas por dentro, com goteiras e fendas no teto e nas paredes, de chão de blocos de pedra, coberto por limo e musgo. Eram construídas nas encostas dos desfiladeiros a beira mar, encravadas entre uma erosão e outra. As pessoas passaram a noite em claro, uma insônia coletiva provocada pelo sentimento de pesar dos barcos que calhavam no mar e se espatifavam nas pedras, arremessados por aquelas ondas violentas. As tempestades eram cada vez mais freqüentes naquela região, a miséria se amontoava ali, como pedregulhos de um avalanche. As pessoas empobreciam seus espíritos, eram mesquinhas, a fome, junto com a falta de fibra moral, que nunca fora muito forte ali, reforçava a podridão da existência pobre e vazia, sem esperança. Não havia mais pesca, mais comércio, nem nada. Comiam apenas pão velho e água quente com limão.

A praia era isolada, um lugar ermo e frio, tinha um cais além dos rochedos do vilarejo e só. Nada funcionava ali,era um lugar esquecido,alguns afirmavem ser amaldiçoado. Areia amarelada e pedras escuras, escorregadias e pontudas, era tudo que tinha ali. E fungos, não mais que isso. Quantas não foram às crianças que padeceram ao engolirem cogumelos venenosos...Tinha o formato linear, porém ligeiramente curvo, uma tangente sutil e quase imperceptível. Ninguém queria sair de casa naquela manhã mórbida e funerária. As mulheres tinham olheiras profundas e tentavam aquietar as crianças que não conseguiam dormir devido às dores da fome. Cozinhavam então, um mingau insosso com restos de leite talhado, água e alguns poucos farelos de aveia, sem açúcar nem manteiga, na esperança que aquilo acalentaria um pouco seus vazios e gelados estômagos. Fazia frio, não tinha muita lenha, só para o fogão. Tampouco desejavam ver os restos dos barcos espalhados na praia, nas pedras. Era muito doloroso; já havia acontecido antes, e os barcos foram reconstruídos. Mas não daquela vez. A madeira já estava velha, estragada, já se havia feito muitos remendos e reparos. Não tinha mais jeito. Era como a morte de um ente querido, um pai ou um marido que provesse o sustento da casa. Estavam órfãos e jogados a própria sorte, essa era a verdade.

Somente um homem ousou caminhar pela praia naquela póstuma manhã. Era magro, esquálido, barbudo e maltrapilho. Tinha aspecto de vagabundo, e de fato o era. Sobraram-lhe apenas quatro dentes na boca e os cabelos desgrenhados eram infestados de piolhos e fediam. Ele todo fedia a uma mistura de suor, aguardente e ao perfume barato das putas do porto. Apesar disso, era casado, tinha sete filhos, com um oitavo a caminho. Não pescava nada há tempos, desde que os princípios da má sorte e infortúnio começaram a aparecer. Era um elemento fraco, desprovido de qualquer moral em seu ser. Todos o viam mal, principalmente depois de ter feito sua redenção ao álcool a as vaginas doentes das prostitutas alcoolizadas e perdidas. Voltava embriagado para casa, depois de uma noite desvairada e pecaminosa. Estava zonzo de fome, e sentia raiva por saber que não encontraria ao chegar, uma cama macia e quente, com um suculento caldo de peixe no fogão, e uma mulher bonita e perfumada para fornicar e lhe dar prazer, e sim um pedaço de pão mofado, um cobertor puído no chão e uma gorda suada e fedida. Desatento com estava tropeçou em algo que estava no caminho, caindo estatelado no chão. “Mas que diabos!”. Levanta-se e por algum motivo, olhou para trás. Era realmente uma coisa muito rara. Tropeçara numa enorme baleia. Ela ainda respirava, tinha olhos tristes e profundos. O temporal a trouxera para as águas rasas e agora a maré estava esvaziando, deixando-a encalhada ali. Por alguns instantes os dois se olharam, ele estava abismado, um brilho de espanto iluminou seu olhar opaco e reticente. A baleia tinha um olhar penetrante, que implorava “Por favor, me tire daqui...”. Ficaram ali, entreolhando-se. O silêncio era sepulcral, as crianças adormeceram, as mulheres não brigavam entre si pela ultima intriga arquitetada, as gaivotas não voavam. Os únicos que falavam eram o vento e o mar, com seus sopros e ondas. Ela está assustada, esguichava ainda um pouco de água. Ele por sua vez recua, mas aos poucos, cede aqueles gemidos de socorro, as ondas sonoras emitidas por ela. Aproxima-se, pé ante pé, a baleia chora em desespero. A toca, encostando seus dedos imundos e ainda melados de fluido feminino. Sente sua pele lisa, escorregadia, parcialmente úmida. Está mais a vontade com ela, que está sucumbindo ali, aquele homem asqueroso. “Não me deixe morrer assim, não” implora a baleia. Mas ele não a ouvia mais, estava hipnotizado por ela, por seu canto lacrimoso, que ele não compreendia. Surdo de fome desenvolvera com a baleia uma relação presa-predador, deixando seu rosto peludo sentir aquela maciez, suavidade da pele. Tinha um cheiro peculiar e atraente, mais do que qualquer outra fêmea no mundo que já tivesse sentido. Seus lábios secos a tocam, e a beija. A beija sem parar, a cheira, com fundas e longas fungadas. Deixa-se se inebriar. Eis que então a morde. Um gemido fraco é completamente ignorado. Morde-a de novo, com seus poucos dentes cariados. Lentamente consegue dilacerar sua carne, arrancando os pedaços crus e gordurosos, encharcados de sangue fresco. Mastiga, com grande deleite, snetindo o gosto salgado e a banha grudando em seu céu da boca e língua. Seus lábios estão lambuzados de gordura e sangue, mas não se importa, enfim carne. Corre em volta dela, como uma criança em volta de seu presente no natal. Não quer perder um único pedaço. Come, morde, mastiga e engole, como um selvagem. Nada lhe escapa, mordisca a barbatana, o rabo, a parte no meio devorando as vísceras, o útero fecundado, o coração, papou ate a língua.
Não se recordava de jamais ter sido tão feliz. A baleia morreu, seca, antes mesmo de ser engolida violentamente. Estendida na areia. Horas se passaram, o dia virou noite. A noite amanheceu um novo dia. No por do sol do segundo dia, o acharam ali, jogado na praia, ao lado das graúdas ossadas da baleia, com roupas ensangüentadas, monstruosamente gordo, morto, com a pança pra cima.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

escapismo

um, dois, testando...

furgere vita, uma analogia ao clichê árcada furgere urbem. não, você não leu errado, fuga da vida. não é uma declaração suícida, em hipótese alguma, antes de mais nada tenho tesão pela vida, não da forma estranhíssima à lá iggy pop na homônima canção 'lust for life'. explicações feitas, posso começar de fato o desenvolvimento de meu raciocínio.
fugir da vida é algo que talvez muitos de nós sonhamos, eu pelo menos vez por outra. me refiro ao escapismo que temos em nós, de tentar viver uma realidade diferente. nenhuma esquizofrênia. num mundo como esse, que nós sufoca como numa linha de produção fordista, tudo se transmutou em fábricas, fábrica acadêmica, ideológica, biológica, que tomam proporções escatológicas. um cenário nada distinto daquele na europa moderna, que estava a se industrializar, a formar suas urbem, seus formigueiros sufocantes. se naquela epóca nos sentíamos oprimidos pela fumaça preta do carvão e da insalubre sociedade burguesa, e almejávamos viver na mitológica arcádia, ou pelo menos, nos puros campos de límpidos lagos e ar translúcido e leve, hoje somos esmagados pelas instituções e suas expectativas: faça um nome, uma carreira, ganhe dinheiro e trabalhe mais, de forma que você acumule bens que não vai ter tempo de usufruir, uma família que você talvez não consiga conhecer, estude um monte de coisa desde os 11 anos de idade, pra chegar aos 18, marcar um 'x' num formulário de alguma universidade, e se perguntar "pra que merd* eu aprendo isso?''.
não obstante, crie suas próprias expectativas, que podem ser fortemente influenciadas por seus pais, ou não, e vá atrás delas, até que um dia você acorda de manhã e diz "não era nada disso, eu quero é aquilo". foi assim comigo. por anos defendi um sonho de fazer faculdade de direito, ser diplomata, tudo muito sério, muito idealizado e romântico. mas aí vi que diplomacia é mito, que meu "sonho" era uma fuga do mundo violento e perverso, onde, ó!que surpresa, o que mais conta é a economia; a paz, as vidas que se perdem com guerras injustificáveis são tratadas com descaso pelas grandes nações, que tomam as rédeas da humanidade como quem joga dados, contando com a sorte. o poder corrompe, tudo e qualquer coisa. fugi então do sonho, e mergulhei em incertezas, mas tomando um caminho para as artes. até que acordei um dia, fui pra escola, e andando pro ponto de ônibus e 'plim':"eu quero ser atriz". aquilo vinha de dentro, era genuíno e inexplicável. mas aí veio o conflito com a família, não ia satisfazer as expectativas de todos aqueles que viam em minha eloquencia e perspicacia, uma potencial carreira na advogachatice (nenhum preconceito, mas vestir um talleiur -mademoiselle channel é divina, mas essa não é a questão- e sentar num escritorio todos os dias não combina comigo). ser atriz, pelo que compreendo, é poder realizar todos os meus anseios de fuga; é poder por alguns momentos ser outrapessoa, estar em outro lugar qualquer, fazendo outra coisa, me entegar a algo maior que minha propria existencia, ser varias sendo uma só. esse é o espirito do furgere vita , fugir e escapar tanto do que chamamos e vida, traduza por estar nesse planeta e aceitar deslizar nas esteiras das neuroticas linhas produçao, para assim chegar na vida autêntica, dentro de nossas cabeças, onde nada pode ser limitado.