segunda-feira, 27 de agosto de 2007

escapismo

um, dois, testando...

furgere vita, uma analogia ao clichê árcada furgere urbem. não, você não leu errado, fuga da vida. não é uma declaração suícida, em hipótese alguma, antes de mais nada tenho tesão pela vida, não da forma estranhíssima à lá iggy pop na homônima canção 'lust for life'. explicações feitas, posso começar de fato o desenvolvimento de meu raciocínio.
fugir da vida é algo que talvez muitos de nós sonhamos, eu pelo menos vez por outra. me refiro ao escapismo que temos em nós, de tentar viver uma realidade diferente. nenhuma esquizofrênia. num mundo como esse, que nós sufoca como numa linha de produção fordista, tudo se transmutou em fábricas, fábrica acadêmica, ideológica, biológica, que tomam proporções escatológicas. um cenário nada distinto daquele na europa moderna, que estava a se industrializar, a formar suas urbem, seus formigueiros sufocantes. se naquela epóca nos sentíamos oprimidos pela fumaça preta do carvão e da insalubre sociedade burguesa, e almejávamos viver na mitológica arcádia, ou pelo menos, nos puros campos de límpidos lagos e ar translúcido e leve, hoje somos esmagados pelas instituções e suas expectativas: faça um nome, uma carreira, ganhe dinheiro e trabalhe mais, de forma que você acumule bens que não vai ter tempo de usufruir, uma família que você talvez não consiga conhecer, estude um monte de coisa desde os 11 anos de idade, pra chegar aos 18, marcar um 'x' num formulário de alguma universidade, e se perguntar "pra que merd* eu aprendo isso?''.
não obstante, crie suas próprias expectativas, que podem ser fortemente influenciadas por seus pais, ou não, e vá atrás delas, até que um dia você acorda de manhã e diz "não era nada disso, eu quero é aquilo". foi assim comigo. por anos defendi um sonho de fazer faculdade de direito, ser diplomata, tudo muito sério, muito idealizado e romântico. mas aí vi que diplomacia é mito, que meu "sonho" era uma fuga do mundo violento e perverso, onde, ó!que surpresa, o que mais conta é a economia; a paz, as vidas que se perdem com guerras injustificáveis são tratadas com descaso pelas grandes nações, que tomam as rédeas da humanidade como quem joga dados, contando com a sorte. o poder corrompe, tudo e qualquer coisa. fugi então do sonho, e mergulhei em incertezas, mas tomando um caminho para as artes. até que acordei um dia, fui pra escola, e andando pro ponto de ônibus e 'plim':"eu quero ser atriz". aquilo vinha de dentro, era genuíno e inexplicável. mas aí veio o conflito com a família, não ia satisfazer as expectativas de todos aqueles que viam em minha eloquencia e perspicacia, uma potencial carreira na advogachatice (nenhum preconceito, mas vestir um talleiur -mademoiselle channel é divina, mas essa não é a questão- e sentar num escritorio todos os dias não combina comigo). ser atriz, pelo que compreendo, é poder realizar todos os meus anseios de fuga; é poder por alguns momentos ser outrapessoa, estar em outro lugar qualquer, fazendo outra coisa, me entegar a algo maior que minha propria existencia, ser varias sendo uma só. esse é o espirito do furgere vita , fugir e escapar tanto do que chamamos e vida, traduza por estar nesse planeta e aceitar deslizar nas esteiras das neuroticas linhas produçao, para assim chegar na vida autêntica, dentro de nossas cabeças, onde nada pode ser limitado.

Um comentário:

Lucas Albuquerque disse...

clap, clap, clap... muito bom!

"fugere vita"
vc resumiu, em um só termo, todo o anceio de nós artistas(pretencioso né?). um desejo escapista q não é comum, em termos de um mundo alienígena onde poucos(pouquíssimos!) saem da matrix, raros são os que sobem até a ponta dos pêlos do coelhos branco para ver o mundo... Mas vamos lá fazer algo que se aproxime ao máximo da arte, tentar mudar o mundo, sempre tentando!

bjo cela